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22/02/2011

Palavras que eu queria ter escrito IV

A Polo Norte do Quadripolaridades é que sabe...

Quando era adolescente fazia parte da geração rasca. Via-se na televisão pessoal a dizer que não pagava propinas e a alçar do rabinho e a mostrá-lo na televisão. Nunca me revi nessa geração que protestava mostrando o nalguedo.
Agora querem que me enquadre numa geração à rasca. Uma geração que ouve Deolinda e encontra hinos que a descrevam (lamento o meu mau gosto, mas se eu tivesse um hino que me descrevesse seria o "Nasce Selvagem"). Não me revejo.
Eu sou de uma geração própria e muito circunstancial. A minha geração é a de pessoas que viviam em Cascais e iam todos os dias trabalhar para Vila Franca de Xira para ganharem experiência profissional. A minha geração é a de pessoas que viviam em Lisboa em casinha do papá e trocaram o conforto do lar para ir trabalhar para o Algarve, ministrando formação em cursos EFA a formandos que faziam do subsídio de emprego uma forma de vida, porque tinham que começar a trabalhar em algum lado. A minha geração é a de pessoas que sendo técnicas começaram por ganhar 600€ a trabalhar todo o dia de pé num laboratório, auferindo menos vencimento que uma administrativa, porque um estagiário tem que se sujeitar. A minha geração é a geração que comprava o Expresso semana após semana, nunca se conformando, fazendo da procura activa de emprego um conceito contínuo, mesmo que já se estivesse a trabalhar. A minha geração é a geração da Margarida, da Rita Maria, da Ana Luísa e da Xana que emigraram, para longe dos amigos e da família, porque sabem que crescer profissionalmente requer esforço e sacrifício. A minha geração é a geração que prefere andar de transportes públicos e ter dinheiro para arrendar uma casa que viver em casa dos pais e ter dinheiro para ir a concertos. A minha geração é a geração que prefere trabalhar numa área que não é a sua que ser uma doutora desempregada e amargurada. A minha geração é a geração que não assume o discurso que a culpa é da crise, é a geração que não espera que o trabalho lhe bata à porta, é a geração que prefere trabalhar a ganhar menos que ficar em casa e ser subsidiária.
Quanto à vossa, não sei. Mas a minha geração é a geração desenrasca.

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