Sempre gostei de putos e até acho que a chavalada também gosta de mim. Fiquei encarregue muito cedo da minha irmã - lá para os 14 - e da casa, já que os meus pais trabalhavam de manhã até tarde da noite e tive de crescer à força também fruto da doença da minha irmã - tem uma variante de trissomia. Brinquei muito na infância, mas a adolescencia já foi mais lixada. Tenho a perfeita noção que não gozei tudo o que tinha para gozar naquela altura. Eu sempre fui responsável e atinada. A menina que tira boas notas, menina do coro, que ajuda em casa, que poupa dinheiro não se deixa fazer grandes gastos e pouco ou nada pede. Na faculdade mantive o rumo, sempre com boas notas, estagiava e trabalhava ao mesmo tempo. Todos os dias das 7 às 7 faculdade e estágio e depois trabalho até onze e tal ou meia noite. Era a "designated driver" na queima. Cheguei a "entregar" 5 em casa sãs e salvas e eu sem uma pinga de álcool dentro de mim. Não que pense que é preciso beber para haver diversão atenção. Acho que ao assistir figuras dos amigos com copos já me diverti mais que muitos deles. Sempre me diverti, mas sempre pensei nos outros antes de mim. Sempre. Não posso ir porque tenho de ficar com a minha irmã. Não posso ir porque tenho de ajudar os meus pais no negócio. Não posso fazer porque tenho de tratar da casa. Não posso beber porque tenho de levar o carro. Não posso fazer isto ou aquilo por causa do namorado, amigo, família etc. etc.
Em 2005 dei o meu grito do Ipiranga e abalei para o Reino Unido com um contrato de seis meses. Uma amiga do coração desafiou-me e foi companheira de viagem, quarto, trabalho e muitas aventuras. Ainda hoje me lembro de arrastar uma mala de 30 e tal quilos pela rua fora para poupar o dinheiro do táxi. Éramos umas tesas. Nessa decisão não pensei na família ( que sofreu muito com a distancia e a necessidade de redefinir muita logística dentro de casa), não pensei no namorado ( agora marido que ficou por Portugal e acabou por deixar tudo e mudar-se também para terras de sua majestade), nos amigos ( que perguntavam se eu tinha certeza, se não era arriscado ). Pensei unicamente em mim e no que eu queria. Foi uma das melhores decisões da minha vida e mudou-a completamente. Com esta decisão aprendi que tenho bom instinto, aprendi que tenho de me colocar mais vezes no topo da lista no que toca a hierarquias de decisões. Por isso é que agora, numa altura em que os pais já anseiam um netinho, os amigos fartam-se de perguntar, a restante família já manda boquinhas ( que não suporto) eu penso em nós. Sim, porque neste caso a decisão é conjunta. Somos dois a fazer um filho e felizmente tenho um companheiro que me diz depois de um fim de semana passado com amigos que já têm várias crias: "Um dia com eles sabe bem, mas bebés a chorar e birras ainda causam espécie não é?" Podia pensar nos outros primeiro, mas neste caso o relógio é meu e quando for para entrar em acção eu saberei.
2 comentários:
Adorei!
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Obrigada Leana
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