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05/11/2010

A minha vida passou-me em frente aos olhos.





Tive um acidente de carro feio. Despistei-me sozinha à entrada da auto-estrada num dia de chuva. Um pouco de óleo na estrada foi o suficiente para dar um pião de 180 ao carro e bater de lado. Reagi, liguei o carro e vi um camião a vir na minha direcção e mais dois carros. Dois minutos mais tarde e teríamos sido possivelmente quatro viaturas com resultados bem mais desastrosos.
Não vi a vida a passar-me em frente aos olhos no momento do acidente. Não. Isso é uma grande léria que nos é vendida nos filmes de Hollywood e telenovelas. Naquele momento só tive tempo de ter um cagaço do caraças e pensar “Pronto… já foste Pintas”. A visão em si foi retroactiva, quando já estava sentada na cadeira da sala de espera da seguradora para tratar da papelada. Isso também é outra merda que faz um sentido do caraças. Uma pessoa acaba de ter um acidente do Car”#$$# e tem uma tipa à frente que só diz “Apólice”. Passado um bocado “Ah tem de preencher também aqui na declaração a parte do seguro”. Nenhuma empatia, nenhum sorriso, nada mesmo. Pessoa fria e distante. Isto depois de saber perfeitamente o que tinha acontecido ao pormenor.
Voltando ao tema da visão. Foi na sala da espera da seguradora que revi uma, duas, três, muitas e muitas vezes na minha mente o que tinha acontecido e o que poderia ter acontecido. Lembrei-me que no dia anterior tive uma quase discussão com o mais-que-tudo porque me pediu para sair mais cedo do trabalho e lhe respondi que “tinha tarefas inadiáveis para fazer”. Mal sabia eu o quanto iria relativizar essas palavras e prioridades no dia seguinte. E a vida passou-me em frente aos olhos, não no sentido romântico da coisa porque não vi um filme dos momentos importantes, vi sim as prioridades que tenho tido. O pé no acelerador quando estou atrasada, o almoço em frente ao computador quando tenho muito trabalho, o trabalhar em casa depois de jantar em vez de conversar com o mais-que-tudo. Muito stress, muitas complicações, muitos pseudoproblemas. Há uns tempos foi-me contada esta história “Um homem às portas da morte quando lhe perguntaram por que razão gostaria de ter mais tempo não respondeu certamente- para relatórios e reuniões”. A minha vida passou-se em frente aos olhos.

2 comentários:

teardrop disse...

Eu num dia de chuva não cheguei a bater no carro que ia à minha frente e se despistou, mas também vi a minha vida a passar-me pelos olhos. E não foi uma sensação nada agradável...

I. disse...

Essa é que é essa. Felizmente não precisei de um susto desses para reaorganizar as minhas prioridades. Aqui há uns anos deu-me uma epifania e adeus urgências, que o trabalho pode esperar. Quem importa não, até pode mas não deve esperar.