O dia em que descobri que não sou perfeita

Eu gostava de ser uma gaija fina, gostava mesmo. Daquelas que têm sempre as unhas arranjadas, das que se vestem sempre bem, que têm o cabelo sempre impecável esticadinho, pintado ou com caracóis perfeitos. As que têm sempre roupa bonita e que lhes assenta como uma luva, com os últimos gritos da moda e onde nunca cai uma nódoa. Que chegam a casa exatamente como saíram, perfeitas, sem um vinco na roupa ou a maquilhagem borrada e nunca têm uma espinha na cara . E que no meio disto tudo têm a casa um brinco, são um must no trabalho e ainda cozinham que se fartam. Mas não sou e não consigo ser e sinceramente não sei se quero ser. 

Este fim de semana organizei um jantar para vinte pessoas lá em casa, com direito a entradas, dois pratos e sobremesas. É claro que estive o sábado todo com a barriga encostada ao fogão, que tinha tudo lindo, maravilhoso e decorado quando as pessoas começaram a chegar. Mas dei por mim a meio da noite, depois de ter garantido que toda a gente tinha comido e bebido e estava bem, a comparar-me com as outras mulheres presentes e fiquei meia triste. Nem um blush consegui pôr e confesso que me senti uma parola ali no meio, com o verniz a estalar num dedo, o cabelo solto com uma triste espuma e uma roupinha simples. 

Mas olhando melhor se pensar bem eu não tenho empregada doméstica, trabalho e muito com uma equipa a gerir, passo mais de 12 horas fora de casa e ando de transporte públicos. Muitas vezes tenho olheiras até ao umbigo e o cabelo a competir com o Eduardo mãos de tesoura, a maior parte das vezes as unhas com um básico transparente e maquilhagem até me esqueço que a tenho...não sou perfeita. Sou uma mulher real, com muitos defeitos e tento levar a vida a rir e a divertir-me. Tal como me diverti na festa e sei que todos se divertiram, que me elogiaram a comida, a casa. E isso sabe muito bem também, particularmente porque gosto muito de receber bem. A perfeição? É impossível acho. Vou alcançando momentos perfeitos que são bem melhores e ficam na minha memória. 

PS: Isto não tem qualquer ligação com o aproximar dos 30 ok? Estou a cagar-me para a idade, aliás acho que sou muito mais interessante agora do que com 20.