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05/04/2012

Don't you forget about me

Um dia vamos ter de explicar aos nossos filhos porque é que chamamos "Pica" ao senhor que vem verificar se temos bilhete no comboio; Comboios estes que nem sempre foram assim amarelos (quem sabe como serão?).
Vamos ter de explicar que houve um tempo onde não existia a Internet, que nascemos e vivemos algum tempo sem esse instrumento e mesmo sem computadores; Acho que isto lhes vai dar a volta à cabeça.
Vamos ter de explicar o que era um "pen friend" que escrevíamos imensas cartas uns para os outros, mesmo entre amigos próximos da mesma turma. Como não havia cá telemóveis para ninguém escreviam-se cartas e postais também. Tenho uma caixa de sapatos cheia de cartas e postais da minha adolescencia. Que tivemos telefones que para marcar o número tínhamos de girar uma roda com um buraco para cada dígito. Que tivemos walkmans, discos de vinil, cassetes onde gravávamos as músicas diretamente da rádio ( já aqui o disse que o fiz imensas vezes, que não havia dinheiro para compras de CD's e cassetes).
Vamos ter de explicar o que é uma cabine telefónica, que não tivemos telemóveis durante muito tempo e nem por isso morremos. Eu, por exemplo, tive o meu primeiro nos meus vintes e até lá sobrevivi.
Vamos ter de explicar o que eram máquinas de escrever. Felizmente tenho a minha guardada na sua caixa e bem estimada, muita tinta gastei com ela. E a tecla presa na folha? E corrigir letras erradas com uma fita branca tipo corretor?
Houve um tempo onde só existiam dois canais de televisão, depois três e só depois bem mais tarde o quarto. Explicar o que eram os jogos sem fronteiras e que já nessa altura andávamos sempre em competição com a Grécia. Que houve uma altura em que esperávamos ansiosamente pelo Festival da Canção e os desenhos animados ao Sábado de manhã.
Houve um tempo em que íamos e vínhamos sozinhos a pé para e da escola e brincávamos na rua até à noite. Corríamos, saltávamos, jogávamos ao elástico, à corda, fazíamos o pino contra as paredes da escola, uma de cada vez até já não dar mais e cairmos todas e raspávamos os braços, os joelhos, as pernas e riamos e os nossos pais não andavam sempre atrás de nós. Punham mercurocromo e aquilo passava. Comíamos pão com tulicreme e comprávamos gomas a caminho da escola. Jogávamos às escondidas, ao elástico, andávamos de skate, bicicleta e patins, daqueles que se prendiam por baixo das sapatilhas. Íamos buscar pão para a mãe todos os dias à mercearia e trazíamos o mesmo num saco de pano que existia lá em casa para esse propósito. Escrevíamos diários, agora será que os miúdos fazem isso? Eu escrevi vários.
Um dia...

3 comentários:

Pintas disse...

É verdade Left, saudades mesmo. Estranho ver o quanto o mundo muda em tão pouco tempo.

Ballerina disse...

Delicioso. Muitas das noites de brincadeira na rua eram passadas a tocar a campainhas alheias começando depois uma corrida desenfreada à procura da esquina mais próxima.
Pena que os filhos dessa geração não possam mais viver essa infância e essa liberdade.
Que bom recordar!

Pintas disse...

Ballerina, é verdade..tocar às campainhas ..já me tinha esquecido dessa.