Esperar não é para mim definitivamente

Chegar a casa e contar tudo o que se tinha passado também foi algo que custou muito. Nessa noite decidimos que não ficávamos em casa senão o mais certo seria deitar-me e passar a noite a chorar. Passamos nos meus pais a quem contamos logo e claro foi a choradeira com a minha mãe. Os conselhos do costume e inevitáveis de uma mãe que vê a sua filha a sofrer: "isso é comum, acontece a imensas mulheres, não te preocupes filha que vais voltar a engravidar de certeza". Isto foi uma sexta feira e por muito ridículo que possa parecer  fomos jantar fora. Nós somos bichos estranhos é verdade mas é por isso que nos damos tão bem e ficar em casa só iria ser pior. 
Sábado, Domingo, Segunda e Terça de Carnaval em casa e nada de acontecer nada com o meu corpo. Quarta feira fui trabalhar com o coração nas mãos. Não sabia se conseguia estar no local de trabalho pois a minha cabeça estava noutro lado. Falei com a minha chefe, contei-lhe tudo e vim para casa. O apoio foi incondicional, algo que já contava da empresa e pessoas com quem trabalho.
A minha mãe aconselhou-me a ir ao meu médico de família. Assim, farta de esperar, na quinta feira e quase uma semana depois da ecografia e indicação de aborto retido dado pela minha ginecologista fui ao posto médico. Alias, depois disto tudo percebo agora que já o deveria ter feito antes, mas isso fica para outra historia. O meu médico de família,  o mesmo há mais de vinte anos, passou-me carta imediatamente para o Hospital São João, serviço de urgência de Ginecologia e Obstetrícia  Nessa tarde fui ao Hospital  onde iria começar o procedimento oficial físico de aborto. Não posso dizer que tenha sido fácil física ou psicologicamente  mas, no meu caso, a espera que algo espontâneo acontecesse ( sem saber bem o quê)  é que estava a dar cabo de mim.